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terça-feira, 28 de novembro de 2006

Danças no Limbo

Recupero aqui um post "anónimo", de 24 de Julho de 2006, colocado no fórum Profissionais de Saúde Ambiental.

Esta noite acordei sobressaltado.
Tinha acabado de ter um pesadelo.
Todo eu era suor. Por momentos ainda pensei que a cama molhada fosse o resultado de uma noite escaldante de sexo ou da "incontinência" própria da idade do meu filho, que se havia mudado para a minha cama a meio da noite. Mas não. Tinha acabado de ter um pesadelo.


Sonhei que após muitos anos de estudos em Saúde Ambiental e depois de trabalhar num serviço de Saúde Pública, que lentamente recuperava da sua morbidez; depois de muitos anos a lutar pela valorização dos Técnicos de Saúde Ambiental; depois de uma década em que vivi a Saúde Ambiental de forma tão intensa que a julguei parte de mim; depois de criar expectativas de ver, finalmente, reconhecido o papel importante que estes profissionais têm ao nível dos cuidados de saúde primários; depois...

Depois de tudo isto, que parecia o início de um belo sonho, de repente, alguém me gritou:
- ACABE-SE COM A SAÚDE AMBIENTAL!

Olhei em volta e não vi ninguém. Ao longe, vislumbrei umas sombras que sussurravam:
- Croquetes e retretes!
- Técnicos Sanitários... sanitas... sanitas...
- Saúde Ambiental... saúde mental... mental...

Corri naquela direcção, mas era tarde de mais.
Mais uma vez, as sombras não passavam disso mesmo. Sombras! Vultos sem rosto. Palavras sem dono.


- Croquetes e retretes!
- Técnicos Sanitários... sanitas... sanitas...
- Saúde Ambiental... saúde mental...

Os sussurros continuavam. Desta vez vinham de todo o lado. Tentei tapar os ouvidos. Era tarde de mais. Aquelas palavras multiplicavam-se e ecoavam dentro de mim. Sentia-me vazio e dentro de mim, aquelas palavras ecoavam. Faziam vibrar a frágil estrutura que em tempos havia sido o alicerce de um técnico empenhado. Agora a estrutura desmoronava-se. Agora o técnico desistia.

Fui caminhando, tentando fugir dos ecos que havia em mim. Olhava para trás, para um lado e para o outro e, os vultos lá estavam.

- JÁ NÃO POSSO MAIS!!

Rastejo. Ouvem-se risadas. Vêem-se sombras que em círculo vão cantando e dançando.
Encontro-me no limbo. Aqui perece a Saúde Ambiental que nunca deixou de ser criança. Aqui morre um sonho, que se tornou pesadelo.

Esta noite acordei sobressaltado.
Tinha acabado de ter um pesadelo.
Levantei-me, tomei banho e comi uma torrada dura, barrada com manteiga rançosa.
Ao sair de casa, para ir trabalhar, beijei o meu filho na testa e segredei-lhe ao ouvido:
- amo-te.

Quando cheguei ao meu trabalho, já nada havia.
Tinha sonhado acordado!

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